Primeiro
ponto: o Pedro já perdeu o seu sentido de omnipotência e tem receio de ser abandonado. E quando já ouviu os pais dizerem-lhe: «Estou farto de ti!» - ou, mesmo não tendo ouvido, já pressentiu que isso poderá (na cabeça dele, claro) acontecer -, tem medo de que o façam sair de casa,
para um mundo onde (ele bem sabe!) não sobrevive- ria. E não gostarem dele será o pontapé de saída...
para a saída.
Segundo
ponto: o Pedro tem já muito desenvolvido o seu sentido ético. Sabe distinguir o bem do mal, e se faz asneiras é porque é isso mesmo que quer fazer.
Terceiro
ponto: o Pedro descobriu que tem duas versões: uma boa e outra «me
nos boa».
Descobriu, afinal, a condição humana, mais outro «peso-pesado» que tem de assumir.
Quarto
ponto: o Pedro não sabe se consegue controlar a versão «má», a tal que lhe
garante «cama e roupa lavada», está já assente, e com ela o amor dos pais.
Quinto
ponto: o Pedro tem medo de ser mau, de «acordar mau», porque não sabe como é que estas coisas se controlam. E se tal acontecer, os pais não gostarão dele, e daí a porem-
no na rua será um ápice.
Sexto
ponto: Perante esta dúvida angustiante, o Pedro tem de se testar, a ele e aos pais. Como o amor dos pais já é um dado adquirido,
para a versão «boa», vai então experimentar a outra versão, a «má».
Para ver o que dá...antes que a situação escape ao seu controlo e as coisas aconteçam sem travão.
Sétimo
ponto: o Pedro tem de ser educado dentro das regras e dos limites estabelecidos pelos pais. Mas há que ter a arte e o cuidado de distinguir a pessoa dos seus atos. Se estes podem ser passíveis de elogio e prémio, ou censura e castigo, já a pessoa tem de ser sempre reafirmada como objetos de amor. Seja qual for a versão que esteja «em vigor».
Oitavo
ponto: não é muitas vezes o que fazemos, mas é quando se deve mais fazer: na fase da asneira e da versão «má», que é afinal quando surgem as dúvidas se os pais gostam ou não dela, há que dar afeto e garantir à criança (portanto, à pessoa) que se gosta dela, que o amor nunca estará em causa.
Dizer «Gosto de ti. És querido!- e só depois, debruçamo-
nos sobre o ato, e então condenarmos e castigarmos se for esse o caso.
Este, o ato. Não aquela, a criança.
Com esta estratégia, o Pedro deixará de ter dúvidas sobre o amor dos pais. Sabe que será sempre desejado e querido (do verbo «querer), mesmo que a tecla carregue na versão «má».
Tiram-lhe toneladas de cima. E verá que consegue, gradualmente, controlar a parte «má», sendo cada vez mais «querido». Além disso, porque os pais lhe ensinaram os conceitos éticos, dos quais ele tem uma
noção muito clara, sentir-se-á bem consigo próprio por agir bem, tendo ainda o acréscimo de receber uma recompensa pelas atitudes corretas. A pouco e pouco deixará as provocações baratas, «rascas» e (quase) incompreensíveis, muito mais rapidamente e com me
nos trauma do que se nada disto for feito.
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